domingo, 15 de dezembro de 2013

Corpo de Nelson Mandela é enterrado na África do Sul

Ex-presidente e líder antiapartheid foi enterrado ao lado de filhos em Qunu.
Ele morreu no dia 5 de dezembro aos 95 anos.



Do G1, em São Paulo

   
O corpo do ex-presidente da África do Sul e líder antiapartheid Nelson Mandela foi enterrado neste domingo (15) em seu vilarejo ancestral de Qunu, na África do Sul, após dez dias de homenagens e funerais. Mandela morreu no dia 5 de dezembro aos 95 anos, e foi enterrado ao lado dos restos mortais de três de seus filhos.
O ganhador do Nobel da Paz, que ficou preso durante o Apartheid por 27 anos, antes de emergir para pregar o perdão e a reconciliação no país, foi colocado para descansar na casa de seus ancestrais em Qunu, depois de uma despedida que misturou pompa militar e os ritos tradicionais de seu clã Xhosa abaThembu.
O enterro foi acompanhado por cerca de 450 convidados – familiares de Mandela, integrantes da comunidade de Qunu e amigos pessoais e alguns dignitários.
mapa qunu mandela (Foto: 1)
O presidente sul-africano, Jacob Zuma, ficou de pé no momento em que o caixão foi colocado no túmulo. Helicópteros militares e aviões de combate sobrevoaram a região e disparos de canhão foram realizados, antes de uma cerimônia tradicional privada, que não teve a presença da imprensa.
"A sua foi realmente uma longa caminhada até a liberdade, e agora você conseguiu a liberdade definitiva no seio de seu criador", disse um capelão militar durante a cerimônia no jazigo da família, onde três dos filhos de Mandela já estão enterrados.
Antes do enterro, foi realizada uma cerimônia de três horas na qual amigos, familiares e líderes mundiais fizeram discursos relembrando a vida e o trabalho de Mandela.
A cerimônia de Estado foi acompanhada por cerca de 4,5 mil pessoas.
Estiveram em Qunu o reverendo americano e ativista dos direitos civis Jesse Jackson, o magnata britânico Richard Branson, o ex-primeiro-ministro francês Lionel Jospin, o político norte-irlandês Gerry Adams, a apresentadora de televisão americana Oprah Winfrey e os atores Forrest Whitaker e Idris Elba, que interpreta Mandela no cinema, além do príncipe Charles.
Diversos discursos foram realizados – todos eles com toques pessoais sobre a personalidade de Mandela e lembranças da vida do líder. "A melhor lição que nos deixou foi: fazer o bem, e também que dentro de cada um de nós está a capacidade de fazer o que queremos na vida", disse Nandi Mandela, uma das netas Mandela.
"Sentiremos saudades de sua voz severa, de quando estava aborrecido, seu riso, porque tinha um grande senso do humor, e de suas histórias; era um grande contador de histórias", lembrou.
Zuma expressou seu agradecimento Mandela por ser e representar “o que toda uma nação necessitava em um momento tão crítico”, na luta contra o regime racista do Apartheid.
O atual líder, que antes entoou uma canção política sobre a opressão, assegurou que a África do Sul vai continuar o caminho que Mandela trilhou aplicando as lições que ainda se extraem de “tão extraordinária vida”.
As ruas próximas à tenda onde foi realizada a cerimônia – em uma propriedade da família Mandela – e ao local do enterro foram bloqueadas - mesmo assim, dezenas de pessoas foram até a região para tentar participar, em vão.
Ao fim da cerimônia de Estado, o corpo de Mandela seguiu em um cortejo acompanhado de uma banda militar. A bandeira da África do Sul que envolvia o caixão foi retirada, e caças da Força Aérea sul-africana sobrevoaram o local para homenageá-lo.
Na noite anterior ao enterro, o corpo de Mandela ficou sob a guarda de sua família e dos anciãos de Qunu. Diversos rituais tribais haviam sido anunciados antes do funeral - incluindo o sacrifício de um boi. Não se sabe se eles ocorreram antes das cerimônias deste domingo ou durante o enterro, quando as imagens do local deixaram de ser transmitidas para preservar a intimidade da família.


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terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Homenagens a Mandela reunirão o maior número de chefes de Estado da história

10/12/2013 - 5h56
Danilo Macedo
Enviado Especial
Joanesburgo (África do Sul) - O tributo que será prestado hoje (10) ao ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela, que morreu na última quinta-feira (5), reunirá o maior número de chefes de Estado da história. O recorde atual foi registrado no funeral do papa João Paulo II, em 2005, com a presença das autoridades máximas de 70 países. De acordo com o governo da África do Sul, mais de 90 chefes de Estado confirmaram presença e o número ainda não foi fechado.
A homenagem será prestada a partir das 11h (7h no horário de Brasília), no Estádio Soccer City, palco da final da Copa do Mundo de 2010 e também, no mesmo dia, da última aparição pública de Mandela, desfilando em um carrinho de golfe e aplaudido por milhares de admiradores. O estádio tem capacidade para cerca de 80 mil pessoas.
Mas Madiba, apelido que remete ao clã daquele que é considerado o mais importante filho da África do Sul, não movimenta apenas dezenas de chefes de Estado e os milhões de sul-africanos que o têm como pai. Os aeroportos de Joanesburgo ficaram lotados nos últimos dias desde a morte de Mandela. Pessoas de todas as parte do mundo chegam para se despedir e prestar homenagem ao líder.
O voo de domingo (8) de São Paulo para Joanesburgo ficou totalmente lotado, e as últimas passagens foram vendidas por mais de três vezes o preço mais barato sem promoção. A imprensa de todo o mundo também veio registrar o momento histórico. No local que o governo destinou ao credenciamento para a cobertura do funeral de Mandela, os jornalistas levaram, em média, cinco horas, no domingo e na segunda-feira, para conseguir uma credencial e ter acesso aos eventos.
O motorista Neggie, que trabalha para uma empresa que transporta pessoas em Joanesburgo, disse que a cidade não “lotou” nos últimos dias. “Está mais do que lotada”, acrescentou. O clima na cidade mistura tristeza pela partida de Madiba e celebração de sua vida. As imagens das bandeiras a meio-mastro em todo o país se misturam com danças e cantorias em homenagem ao ex-presidente que, em vida, despertou a curiosidade e a admiração de pessoas e líderes de todo o mundo e agora os atrai ao país para a despedida. Os presidentes Barack Obama, dos Estados Unidos, e Dilma Rousseff estão entre os que farão um pequeno discurso na despedida oficial.
Edição: Graça Adjuto
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Homenagens a Mandela reunirão o maior número de chefes de Estado da história
De acordo com o governo da África do Sul, mais de 90 chefes de Estado já confirmaram presença. A homenagem será prestada no Estádio Soccer City, palco da final da Copa do Mundo de 2010 e da última aparição pública de Mandela. O estádio tem capacidade para cerca de 80 mil pessoas. Os presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff falarão na despedida oficial


19h05
O ministro do Esporte defendeu a aplicação do Estatuto do Torcedor, prisões de torcedores violentos e punições mais severas para coibir episódios de violência nos estádios do país, como o ocorrido nesse domingo (8) durante a partida entre o Vasco da Gama e o Atlético Paranaense, em Joinville (SC)
 
Organizada culpa autoridades
PM autorizou ingressos para o Vasco
MP já apontava irregularidades
Dilma condena violência
Torcida do Atlético previu briga
20h01
Mais de 200 famílias estão desabrigadas no município, atingido por um temporal no sábado (7). Diante da situação, o prefeito Antônio Mário Lima decretou estado de emergência. A área antiga da cidade, onde fica a maior parte do comércio, prefeitura e secretarias, foi totalmente destruída. O prefeito está entre os desabrigados
18h30
A venda fica proibida em todo o Brasil. Desde o começo do ano, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) faz campanha contra o uso de andadores por crianças que estão aprendendo a andar. Segundo a SBP, há pelo menos um caso de traumatismo para cada duas a três crianças que usam o andador e, em um terço dessas ocorrências, surgem lesões graves
17h03
No país, 881,2 mil segurados facultativos, ou seja, trabalha- dores autônomos ou donas de casa, que não são obrigados a contribuir para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), optaram pela previdência pública para garantir a aposentadoria aos 60 anos, no caso das mulheres, e 65 anos no dos homens
 
Ferramenta permite consultar FGTS
15h58
Kátia Rabello, ex-presidenta do Banco Rural, e Simone Vasconcelos, ex-funcionária do publicitário Marcos Valério, foram transferidas para a capital mineira. Condenadas no mensalão, elas estavam presas desde o 16 de novembro no Distrito Federal, após terem as prisões decretadas pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa
 
Janot: laudo indicará tratamento
Hage: símbolos continuam soltos
6h34
Na sessão de hoje, serão examinados três vetos da presidenta Dilma Rousseff. Cada item será votado separadamente. Entre eles, está o veto a um trecho do Programa Mais Médicos, referente ao parágrafo que proibia os profissionais estrangeiros do programa de exercerem a profissão fora do projeto
19h19
Na segunda etapa de venda dos ingressos para o Mundial, que começou no domingo (8), quase 1,2 milhão de entradas foram solicitados. A adesão dos brasileiros é grande: eles fizeram 86% dos pedidos, seguidos pelos torcedores dos Estados Unidos, da Argentina, do Chile e da Colômbia, segundo a Fifa
20h07
Nesta terça-feira (10), a Comissão Municipal da Verdade de São Paulo vai divulgar um documento de 29 páginas elencando “90 indícios, evidências, provas, testemunhos, circunstâncias, contradições, controvérsias e questionamentos” que a fizeram concluir que o ex-presidente Juscelino Kubitschek foi assassinado durante viagem de carro
16h40
O pré-preenchimento da Declaração do Imposto de Renda da Pessoa Física será implementado por etapas. Em 2014, somente os contribuintes com certificado digital, que somam 1 milhão, poderão ter acesso a essa funcionalidade. O número equivale a apenas 3,8% dos 26 milhões de pessoas físicas que entregaram a declaração neste ano
15h52
A multa foi aplicada devido aos atrasos de voos registrados na sexta (6) e no sábado (7), depois do temporal que atingiu o Sudeste. De acordo com o diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Marcelo Guaranys, a punição pode ultrapassar R$ 5 milhões
17h26
Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que 44% dos entrevistados tiveram melhora na classe social, em relação à classe que pertenciam na infância; 43% ficaram na mesma classe social; e 10% disseram ter piorado


segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Israel “quase em pânico” (e não é metáfora) (30/8/2013, Conflicts Forum, “Comentário semanal...

Enviado por Sergio Caldiere

Da série “O que diz Israel, quando fala prô seu próprio público”:

30/8/2013, Conflicts Forum, “Comentário semanal” [excerto]http://www.conflictsforum.org/2013/conflicts-forums-weekly-comment-16-%E2%80%93-23-august-2013/

O evento mais significativo dessa semana foi, talvez, a publicação de um artigo em Israel. Foi escrito pelo principal analista militar israelense, Alex Fishman, e publicado em hebraico no jornal Yedioth Ahronoth no domingo. Foi atentamente lido na região e nos EUA,[1] sobretudo porque Fishman, muito respeitado, é o veterano correspondente militar desse jornal de grande circulação em Israel, conhecido pela qualidade de suas fontes.

Fishman diz, sem meias palavras, que Israel entrou numa situação de “emergência diplomática”: do primeiro-ministro para baixo, Israel combate “batalha diplomática desesperada” em Washington para desconstruir o antagonismo dos EUA contra Sisi e “os generais”. Essa caracterização de quase pânico, vinda de Fishman, não é metáfora nem “licença poética”. Vê-se, de outras matérias na imprensa israelense, que embaixadores israelenses em pontos chaves já foram instruídos, com mensagens claras de que a situação no Egito pode ter “agudo” [orig. dire] impacto em Israel. A mensagem oficial alerta que Israel, portanto, não pode manter-se omissa, em momento em que a fragilidade do governo egípcio e a deterioração da economia exigem que o exército seja autorizado a restaurar a segurança no Egito [i.e., que Europa e EUA devem ajudar o exército nesse papel]. 

Fishman alerta que a reação antagonista dos EUA contra o golpe militar acabará por explodir sobre Israel. O modo incompetente como os EUA lidaram com a situação, diz Fishman, inflamou os dois lados na arena egípcia, gerando desejo vicioso de “ferir qualquer coisa que simbolize os EUA – o que inclui Israel”. A oposição liberal/secular, diz ele, já reúne assinaturas insistindo em que o Egito abandone os acordos de Camp David. 

Simultaneamente, Fishman sugere, o Egito aproxima-se – ou, como ele especula, talvez até já tenha ultrapassado – seu próprio “momento Síria” [o momento no qual protestos inicialmente administráveis converteram-se em conflito armado].  “Ninguém está falando sobre uma guerra civil no Egito. Os ganhos obtidos pelo exército egípcio contra a Fraternidade Muçulmana foram apenas táticos. Nenhum lado obteve vitória decisiva e hoje mal se seguram em suas posições.” 

“A previsão em Israel” – escreve Fishman – “é que o Egito está entrando em longo conflito interno de baixa intensidade (tumultos, terrorismo) que anuncia período de instabilidade continuada, durante o qual será impossível administrar adequadamente o país, não haverá investimentos externos e a indústria do turismo permanecerá paralisada. O resultado disso será uma situação de declínio econômico que piorará gradualmente, e o Egito ficará dependente do bolso dos regimes na Arábia Saudita e estados do Golfo Persa. Alimentar 85 milhões de bocas com doações por muito tempo não é solução que reabilite a economia egípcia e dê solidez ao atual regime.” 

Num segundo artigo, publicado dia 20 de agosto, sob o título “Eventualmente seremos engolidos”, Fishman associa especificamente o ‘massacre de 25 soldados das forças especiais do Egito, na véspera’, à decisão do Exército Egípcio de retirar suas forças especiais antiterrorismo do Sinai – temendo a possibilidade de um ataque no Canal de Suez. As Forças Especiais foram re-deslocadas para Port Said. 

Mais uma vez, Fishman lamenta o vácuo de segurança criado no Sinai, que foi imediatamente preenchido por jihadistas. A menos que o comando egípcio consiga conter rapidamente a situação, ele prevê que “o fogo se espalhará – não só na direção do que resta do Exército Egípcio no Sinai – mas também em direção da fronteira com Israel.”

Outra publicação importante essa semana em Israel foi uma entrevista com Ephraim Halevy, ex-diretor do Mossad, por Yossi Melman, publicada emSof Hashavua. Ecoa o tema de Fishman, de que se está abrindo uma ravina entre EUA e Israel: Dessa vez não é o Egito; diz respeito à possibilidade de uma implosão da credibilidade de Israel nos EUA, mas tem a ver com o Irã. 

Halevy, ex-diretor do Mossad e ex-Conselheiro de Segurança Nacional, aponta abertamente as contradições da política de Israel para o Irã: de um lado, Israel diz que as sanções não estão funcionando; mas insiste em mais sanções (enquanto os EUA supõem que as sanções ajudaram a modelar a agenda de Rowhani, como Halevy destaca). De modo semelhante, Israel diz agora que o presidente iraniano, que obteve mais de 50% dos votos, não importa, e que só o Supremo Líder fala na questão nuclear [posição contrária à de antes, quando Israel pintava o presidente Ahmadinejad como causa de todos os problemas]. 

“Mas”, pergunta Halevy, se Rowhani “é tão pouco importante”, como se diz agora em Israel, por que Israel tanto se empenha em demonizá-lo como “lobo em pele de cordeiro”? Na opinião de Halevy, ao adotar essa abordagem Israel se torna redundante nas negociações entre o Irã e o ocidente: “Israel basicamente diz, desde o início, que as negociações não são importantes e que os iranianos, não importa o que aconteça, não desistirão do programa nuclear, porque o programa nuclear sempre esteve nos interesses nacionais do Irã – já no tempo do Xá –, e portanto não faz diferença quem esteja no poder em Teerã”. E continua: “Portanto, negociações não fazem sentido, porque fracassarão sempre.” Halevy diz aqui, porém, que não é o que pensam os EUA – que não faz sentido negociar com Rowhani. E que Israel corre o risco de divergir e “perder os EUA nessa questão”: “Interessaria a Israel expor, nesse estágio inicial, antes mesmo do início de qualquer negociação, que há divergência entre nós e os EUA nosso aliado?” – pergunta Halevy, só retoricamente. 

Os dois artigos, duas manifestações de preocupação que se constata entre os israelenses, parecem relacionados a um certo ressentimento muito visível na imprensa em hebraico. O primeiro sinal de apreensão e ansiedade surgiu da declarada intenção da União Europeia de formalizar decisões anteriores sobre comércio com os Territórios Ocupados da Palestina. A imprensa israelense sugere que Netanyahu preocupa-se menos com a des-legitimação em si, que não ferirá tanto Israel, e, mais, porque qualquer deslegitimação enfraquecerá a posição de Netanyahu para mobilizar a União Europeia e os EUA em sua ‘cruzada’ a favor de ação militar contra o Irã.  

Outros israelenses têm preocupação diferente: o chamado “processo de paz” visava precisamente a ‘vacinar’ Israel contra movimentos do tipo “Boicote-Desinvestimento-Sanções” (BDS) (com o ‘processo’ apresentado como sacrossanto). Mas ali estava a União Europeia a agir na direção oposta, e no mesmo momento em que Kerry lançava sua iniciativa. O episódio parece sugerir, segundo outros israelenses, que o sistema imunológico israelense estaria enfraquecendo – e que já não estava operando com a eficácia de antes. E esse, de fato, é o tema, também, de Halevy.

Vários jornais israelenses têm sugerido que o principal objetivo de Netanyahu – talvez o único – para engajar-se no ‘processo de paz’ de Kerry é, precisamente, fortalecer a posição de Israel, para influir mais decisivamente no lobby contra o Irã – especialmente durante a fase de ‘pato manco’ de Obama, depois das eleições de meio de mandato de senadores e deputados, quando Netanyahu pode girar o ‘porrete’ de um “ataque israelense independente” com um pouco mais de credibilidade operacional. 

Mas Halevy diz que isso tampouco funcionará – pressupor, simploriamente, que bastaria Israel engajar-se num ‘processo de paz’, para adquirir legitimidade ‘imediata’ para ameaçar o Irã –, sobretudo porque os EUA, hoje, estão pensando de outro modo. A velha (inconsistente) retórica já não basta. Na entrevista que Kerry deu a Jeffrey Goldberg,[2] Kerry absolutamente não confirmou a eficácia da estratégia de ‘processo de paz’ de Netanyahu. Em vez de o ‘processo’ valer a Israel alguma recompensa e ‘licença’ mais ampla, Kerry disse o contrário – que se Israel não se entender com os palestinos terá de enfrentar a deslegitimação – e ainda acrescentou, para enfatizar, “deslegitimação reforçada com esteroides”. 

O que mais chocou o comentarista israelense é que Kerry omitiu todos os comentários considerados obrigatórios sobre os EUA manterem-se fiéis aos compromissos assumidos com a segurança de Israel etc., etc. Em resumo, Fishman fez, sutilmente, soar o alarme: a maioria dos israelenses podem estar maravilhados com a ascensão ao poder no Egito do “machado matador de Irmãos” (o general Sisi). Mas ninguém pode esquecer o quanto os amigos de Israel (Arábia Saudita, Egito e Jordânia) estão fragilizados nesse momento. E amigos fragilizados são amigos que rapidamente se tornam pouco confiáveis e até infiéis – sobretudo contra Israel – e num momento em que também se abrem ravinas profundas a separar aqueles mesmos amigos e os EUA. 

Kerry e a União Europeia parecem estar dizendo, isso sim, que Israel não pode continuar a contar com favores especiais – simplesmente por aceitar participar do ‘processo’. Alguma coisa está mudando. 


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Em Moçambique, Lula refere-se à eleição de Dilma como o ‘milagre’ que lhe deu ‘orgulho’



Em seu périplo africano, Lula fez nesta segunda-feira (19) uma palestra na cidade de Maputo, em Moçambique. Falou sobre a política social do seu governo. Na plateia, representantes de ONGs, gestores públicos, executivos de empresas e militantes da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique).
Evocando as diferenças que separam o Brasil de Moçambique, Lula preocupou-se em esclarecer que não era portador de uma receita pronta. “Tudo que eu falar aqui é em função da realidade econômica do Brasil, da realidade política e do potencial do Brasil”, disse.
Lula detalhou o funcionamento do Bolsa Família e, no melhor estilo “nunca antes na história”, deu a entender que, antes dele, o Brasil não sabia o que era investimento social. “Nós começamos a incluir os pobres no orçamento. O Bolsa Família, que atende 50 milhões de pessoas, custa apenas 0,5% do PIB brasileiro.”
Ao final da palestra, Lula referiu-se à vitória de Dilma Rousseff, na sucessão de 2010, como resultado de dois fenômenos: o êxito do seu governo e o auxílio do Padre Eterno. “Todos os sucessos do nosso governo resultaram em um milagre. O nosso país, com muito preconceito, elegeu pela primeira vez uma mulher para presidenta da República do Brasil. Foi a tarefa que me deu mais orgulho.”
Acrescnetou: “Os adversários falavam que ela era um poste, que não entendia nada de política. Pois bem, o nosso poste hoje está iluminando o Brasil.”
Lula foi apresentado ao auditório por Graça Machel. Vem a ser a atual mulher do líder sulafricano Nelson Mandela e viúva de Samora Machel (1933-1986) –um militar moçambicano que liderou uma revolução de inspiração socialista e presidiu Moçambique entre 1975 e 1986, ano em que morreu num acidente aéreo.
Graça (na foto) disse aos presentes que Lula é “símbolo […] de sucesso em uma sociedade desigual.” Ela açulou o ego do palestrante: “Nós vimos sua capacidade de tornar a sociedade menos desigual, de criar milhões de empregos, fazendo milhões de cidadãos saírem da pobreza, promovendo desenvolvimento e o fortalecimento da classe média.”

Israel “quase em pânico" (e não é metáfora)

Da série “O que diz Israel, quando fala prô seu próprio público”:
(Enviado por Sergio Caldiere)

30/8/2013, Conflicts Forum, “Comentário semanal” [excerto]http://www.conflictsforum.org/2013/conflicts-forums-weekly-comment-16-%E2%80%93-23-august-2013/

O evento mais significativo dessa semana foi, talvez, a publicação de um artigo em Israel. Foi escrito pelo principal analista militar israelense, Alex Fishman, e publicado em hebraico no jornal Yedioth Ahronoth no domingo. Foi atentamente lido na região e nos EUA,[1] sobretudo porque Fishman, muito respeitado, é o veterano correspondente militar desse jornal de grande circulação em Israel, conhecido pela qualidade de suas fontes.

Fishman diz, sem meias palavras, que Israel entrou numa situação de “emergência diplomática”: do primeiro-ministro para baixo, Israel combate “batalha diplomática desesperada” em Washington para desconstruir o antagonismo dos EUA contra Sisi e “os generais”. Essa caracterização de quase pânico, vinda de Fishman, não é metáfora nem “licença poética”. Vê-se, de outras matérias na imprensa israelense, que embaixadores israelenses em pontos chaves já foram instruídos, com mensagens claras de que a situação no Egito pode ter “agudo” [orig. dire] impacto em Israel. A mensagem oficial alerta que Israel, portanto, não pode manter-se omissa, em momento em que a fragilidade do governo egípcio e a deterioração da economia exigem que o exército seja autorizado a restaurar a segurança no Egito [i.e., que Europa e EUA devem ajudar o exército nesse papel]. 

Fishman alerta que a reação antagonista dos EUA contra o golpe militar acabará por explodir sobre Israel. O modo incompetente como os EUA lidaram com a situação, diz Fishman, inflamou os dois lados na arena egípcia, gerando desejo vicioso de “ferir qualquer coisa que simbolize os EUA – o que inclui Israel”. A oposição liberal/secular, diz ele, já reúne assinaturas insistindo em que o Egito abandone os acordos de Camp David. 

Simultaneamente, Fishman sugere, o Egito aproxima-se – ou, como ele especula, talvez até já tenha ultrapassado – seu próprio “momento Síria” [o momento no qual protestos inicialmente administráveis converteram-se em conflito armado].  “Ninguém está falando sobre uma guerra civil no Egito. Os ganhos obtidos pelo exército egípcio contra a Fraternidade Muçulmana foram apenas táticos. Nenhum lado obteve vitória decisiva e hoje mal se seguram em suas posições.” 

“A previsão em Israel” – escreve Fishman – “é que o Egito está entrando em longo conflito interno de baixa intensidade (tumultos, terrorismo) que anuncia período de instabilidade continuada, durante o qual será impossível administrar adequadamente o país, não haverá investimentos externos e a indústria do turismo permanecerá paralisada. O resultado disso será uma situação de declínio econômico que piorará gradualmente, e o Egito ficará dependente do bolso dos regimes na Arábia Saudita e estados do Golfo Persa. Alimentar 85 milhões de bocas com doações por muito tempo não é solução que reabilite a economia egípcia e dê solidez ao atual regime.” 

Num segundo artigo, publicado dia 20 de agosto, sob o título “Eventualmente seremos engolidos”, Fishman associa especificamente o ‘massacre de 25 soldados das forças especiais do Egito, na véspera’, à decisão do Exército Egípcio de retirar suas forças especiais antiterrorismo do Sinai – temendo a possibilidade de um ataque no Canal de Suez. As Forças Especiais foram re-deslocadas para Port Said. 

Mais uma vez, Fishman lamenta o vácuo de segurança criado no Sinai, que foi imediatamente preenchido por jihadistas. A menos que o comando egípcio consiga conter rapidamente a situação, ele prevê que “o fogo se espalhará – não só na direção do que resta do Exército Egípcio no Sinai – mas também em direção da fronteira com Israel.”

Outra publicação importante essa semana em Israel foi uma entrevista com Ephraim Halevy, ex-diretor do Mossad, por Yossi Melman, publicada emSof Hashavua. Ecoa o tema de Fishman, de que se está abrindo uma ravina entre EUA e Israel: Dessa vez não é o Egito; diz respeito à possibilidade de uma implosão da credibilidade de Israel nos EUA, mas tem a ver com o Irã. 

Halevy, ex-diretor do Mossad e ex-Conselheiro de Segurança Nacional, aponta abertamente as contradições da política de Israel para o Irã: de um lado, Israel diz que as sanções não estão funcionando; mas insiste em mais sanções (enquanto os EUA supõem que as sanções ajudaram a modelar a agenda de Rowhani, como Halevy destaca). De modo semelhante, Israel diz agora que o presidente iraniano, que obteve mais de 50% dos votos, não importa, e que só o Supremo Líder fala na questão nuclear [posição contrária à de antes, quando Israel pintava o presidente Ahmadinejad como causa de todos os problemas]. 

“Mas”, pergunta Halevy, se Rowhani “é tão pouco importante”, como se diz agora em Israel, por que Israel tanto se empenha em demonizá-lo como “lobo em pele de cordeiro”? Na opinião de Halevy, ao adotar essa abordagem Israel se torna redundante nas negociações entre o Irã e o ocidente: “Israel basicamente diz, desde o início, que as negociações não são importantes e que os iranianos, não importa o que aconteça, não desistirão do programa nuclear, porque o programa nuclear sempre esteve nos interesses nacionais do Irã – já no tempo do Xá –, e portanto não faz diferença quem esteja no poder em Teerã”. E continua: “Portanto, negociações não fazem sentido, porque fracassarão sempre.” Halevy diz aqui, porém, que não é o que pensam os EUA – que não faz sentido negociar com Rowhani. E que Israel corre o risco de divergir e “perder os EUA nessa questão”: “Interessaria a Israel expor, nesse estágio inicial, antes mesmo do início de qualquer negociação, que há divergência entre nós e os EUA nosso aliado?” – pergunta Halevy, só retoricamente. 

Os dois artigos, duas manifestações de preocupação que se constata entre os israelenses, parecem relacionados a um certo ressentimento muito visível na imprensa em hebraico. O primeiro sinal de apreensão e ansiedade surgiu da declarada intenção da União Europeia de formalizar decisões anteriores sobre comércio com os Territórios Ocupados da Palestina. A imprensa israelense sugere que Netanyahu preocupa-se menos com a des-legitimação em si, que não ferirá tanto Israel, e, mais, porque qualquer deslegitimação enfraquecerá a posição de Netanyahu para mobilizar a União Europeia e os EUA em sua ‘cruzada’ a favor de ação militar contra o Irã.  

Outros israelenses têm preocupação diferente: o chamado “processo de paz” visava precisamente a ‘vacinar’ Israel contra movimentos do tipo “Boicote-Desinvestimento-Sanções” (BDS) (com o ‘processo’ apresentado como sacrossanto). Mas ali estava a União Europeia a agir na direção oposta, e no mesmo momento em que Kerry lançava sua iniciativa. O episódio parece sugerir, segundo outros israelenses, que o sistema imunológico israelense estaria enfraquecendo – e que já não estava operando com a eficácia de antes. E esse, de fato, é o tema, também, de Halevy.

Vários jornais israelenses têm sugerido que o principal objetivo de Netanyahu – talvez o único – para engajar-se no ‘processo de paz’ de Kerry é, precisamente, fortalecer a posição de Israel, para influir mais decisivamente no lobby contra o Irã – especialmente durante a fase de ‘pato manco’ de Obama, depois das eleições de meio de mandato de senadores e deputados, quando Netanyahu pode girar o ‘porrete’ de um “ataque israelense independente” com um pouco mais de credibilidade operacional. 

Mas Halevy diz que isso tampouco funcionará – pressupor, simploriamente, que bastaria Israel engajar-se num ‘processo de paz’, para adquirir legitimidade ‘imediata’ para ameaçar o Irã –, sobretudo porque os EUA, hoje, estão pensando de outro modo. A velha (inconsistente) retórica já não basta. Na entrevista que Kerry deu a Jeffrey Goldberg,[2] Kerry absolutamente não confirmou a eficácia da estratégia de ‘processo de paz’ de Netanyahu. Em vez de o ‘processo’ valer a Israel alguma recompensa e ‘licença’ mais ampla, Kerry disse o contrário – que se Israel não se entender com os palestinos terá de enfrentar a deslegitimação – e ainda acrescentou, para enfatizar, “deslegitimação reforçada com esteroides”. 

O que mais chocou o comentarista israelense é que Kerry omitiu todos os comentários considerados obrigatórios sobre os EUA manterem-se fiéis aos compromissos assumidos com a segurança de Israel etc., etc. Em resumo, Fishman fez, sutilmente, soar o alarme: a maioria dos israelenses podem estar maravilhados com a ascensão ao poder no Egito do “machado matador de Irmãos” (o general Sisi). Mas ninguém pode esquecer o quanto os amigos de Israel (Arábia Saudita, Egito e Jordânia) estão fragilizados nesse momento. E amigos fragilizados são amigos que rapidamente se tornam pouco confiáveis e até infiéis – sobretudo contra Israel – e num momento em que também se abrem ravinas profundas a separar aqueles mesmos amigos e os EUA. 

Kerry e a União Europeia parecem estar dizendo, isso sim, que Israel não pode continuar a contar com favores especiais – simplesmente por aceitar participar do ‘processo’. Alguma coisa está mudando. 


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