segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Israel “quase em pânico” (e não é metáfora) (30/8/2013, Conflicts Forum, “Comentário semanal...

Enviado por Sergio Caldiere

Da série “O que diz Israel, quando fala prô seu próprio público”:

30/8/2013, Conflicts Forum, “Comentário semanal” [excerto]http://www.conflictsforum.org/2013/conflicts-forums-weekly-comment-16-%E2%80%93-23-august-2013/

O evento mais significativo dessa semana foi, talvez, a publicação de um artigo em Israel. Foi escrito pelo principal analista militar israelense, Alex Fishman, e publicado em hebraico no jornal Yedioth Ahronoth no domingo. Foi atentamente lido na região e nos EUA,[1] sobretudo porque Fishman, muito respeitado, é o veterano correspondente militar desse jornal de grande circulação em Israel, conhecido pela qualidade de suas fontes.

Fishman diz, sem meias palavras, que Israel entrou numa situação de “emergência diplomática”: do primeiro-ministro para baixo, Israel combate “batalha diplomática desesperada” em Washington para desconstruir o antagonismo dos EUA contra Sisi e “os generais”. Essa caracterização de quase pânico, vinda de Fishman, não é metáfora nem “licença poética”. Vê-se, de outras matérias na imprensa israelense, que embaixadores israelenses em pontos chaves já foram instruídos, com mensagens claras de que a situação no Egito pode ter “agudo” [orig. dire] impacto em Israel. A mensagem oficial alerta que Israel, portanto, não pode manter-se omissa, em momento em que a fragilidade do governo egípcio e a deterioração da economia exigem que o exército seja autorizado a restaurar a segurança no Egito [i.e., que Europa e EUA devem ajudar o exército nesse papel]. 

Fishman alerta que a reação antagonista dos EUA contra o golpe militar acabará por explodir sobre Israel. O modo incompetente como os EUA lidaram com a situação, diz Fishman, inflamou os dois lados na arena egípcia, gerando desejo vicioso de “ferir qualquer coisa que simbolize os EUA – o que inclui Israel”. A oposição liberal/secular, diz ele, já reúne assinaturas insistindo em que o Egito abandone os acordos de Camp David. 

Simultaneamente, Fishman sugere, o Egito aproxima-se – ou, como ele especula, talvez até já tenha ultrapassado – seu próprio “momento Síria” [o momento no qual protestos inicialmente administráveis converteram-se em conflito armado].  “Ninguém está falando sobre uma guerra civil no Egito. Os ganhos obtidos pelo exército egípcio contra a Fraternidade Muçulmana foram apenas táticos. Nenhum lado obteve vitória decisiva e hoje mal se seguram em suas posições.” 

“A previsão em Israel” – escreve Fishman – “é que o Egito está entrando em longo conflito interno de baixa intensidade (tumultos, terrorismo) que anuncia período de instabilidade continuada, durante o qual será impossível administrar adequadamente o país, não haverá investimentos externos e a indústria do turismo permanecerá paralisada. O resultado disso será uma situação de declínio econômico que piorará gradualmente, e o Egito ficará dependente do bolso dos regimes na Arábia Saudita e estados do Golfo Persa. Alimentar 85 milhões de bocas com doações por muito tempo não é solução que reabilite a economia egípcia e dê solidez ao atual regime.” 

Num segundo artigo, publicado dia 20 de agosto, sob o título “Eventualmente seremos engolidos”, Fishman associa especificamente o ‘massacre de 25 soldados das forças especiais do Egito, na véspera’, à decisão do Exército Egípcio de retirar suas forças especiais antiterrorismo do Sinai – temendo a possibilidade de um ataque no Canal de Suez. As Forças Especiais foram re-deslocadas para Port Said. 

Mais uma vez, Fishman lamenta o vácuo de segurança criado no Sinai, que foi imediatamente preenchido por jihadistas. A menos que o comando egípcio consiga conter rapidamente a situação, ele prevê que “o fogo se espalhará – não só na direção do que resta do Exército Egípcio no Sinai – mas também em direção da fronteira com Israel.”

Outra publicação importante essa semana em Israel foi uma entrevista com Ephraim Halevy, ex-diretor do Mossad, por Yossi Melman, publicada emSof Hashavua. Ecoa o tema de Fishman, de que se está abrindo uma ravina entre EUA e Israel: Dessa vez não é o Egito; diz respeito à possibilidade de uma implosão da credibilidade de Israel nos EUA, mas tem a ver com o Irã. 

Halevy, ex-diretor do Mossad e ex-Conselheiro de Segurança Nacional, aponta abertamente as contradições da política de Israel para o Irã: de um lado, Israel diz que as sanções não estão funcionando; mas insiste em mais sanções (enquanto os EUA supõem que as sanções ajudaram a modelar a agenda de Rowhani, como Halevy destaca). De modo semelhante, Israel diz agora que o presidente iraniano, que obteve mais de 50% dos votos, não importa, e que só o Supremo Líder fala na questão nuclear [posição contrária à de antes, quando Israel pintava o presidente Ahmadinejad como causa de todos os problemas]. 

“Mas”, pergunta Halevy, se Rowhani “é tão pouco importante”, como se diz agora em Israel, por que Israel tanto se empenha em demonizá-lo como “lobo em pele de cordeiro”? Na opinião de Halevy, ao adotar essa abordagem Israel se torna redundante nas negociações entre o Irã e o ocidente: “Israel basicamente diz, desde o início, que as negociações não são importantes e que os iranianos, não importa o que aconteça, não desistirão do programa nuclear, porque o programa nuclear sempre esteve nos interesses nacionais do Irã – já no tempo do Xá –, e portanto não faz diferença quem esteja no poder em Teerã”. E continua: “Portanto, negociações não fazem sentido, porque fracassarão sempre.” Halevy diz aqui, porém, que não é o que pensam os EUA – que não faz sentido negociar com Rowhani. E que Israel corre o risco de divergir e “perder os EUA nessa questão”: “Interessaria a Israel expor, nesse estágio inicial, antes mesmo do início de qualquer negociação, que há divergência entre nós e os EUA nosso aliado?” – pergunta Halevy, só retoricamente. 

Os dois artigos, duas manifestações de preocupação que se constata entre os israelenses, parecem relacionados a um certo ressentimento muito visível na imprensa em hebraico. O primeiro sinal de apreensão e ansiedade surgiu da declarada intenção da União Europeia de formalizar decisões anteriores sobre comércio com os Territórios Ocupados da Palestina. A imprensa israelense sugere que Netanyahu preocupa-se menos com a des-legitimação em si, que não ferirá tanto Israel, e, mais, porque qualquer deslegitimação enfraquecerá a posição de Netanyahu para mobilizar a União Europeia e os EUA em sua ‘cruzada’ a favor de ação militar contra o Irã.  

Outros israelenses têm preocupação diferente: o chamado “processo de paz” visava precisamente a ‘vacinar’ Israel contra movimentos do tipo “Boicote-Desinvestimento-Sanções” (BDS) (com o ‘processo’ apresentado como sacrossanto). Mas ali estava a União Europeia a agir na direção oposta, e no mesmo momento em que Kerry lançava sua iniciativa. O episódio parece sugerir, segundo outros israelenses, que o sistema imunológico israelense estaria enfraquecendo – e que já não estava operando com a eficácia de antes. E esse, de fato, é o tema, também, de Halevy.

Vários jornais israelenses têm sugerido que o principal objetivo de Netanyahu – talvez o único – para engajar-se no ‘processo de paz’ de Kerry é, precisamente, fortalecer a posição de Israel, para influir mais decisivamente no lobby contra o Irã – especialmente durante a fase de ‘pato manco’ de Obama, depois das eleições de meio de mandato de senadores e deputados, quando Netanyahu pode girar o ‘porrete’ de um “ataque israelense independente” com um pouco mais de credibilidade operacional. 

Mas Halevy diz que isso tampouco funcionará – pressupor, simploriamente, que bastaria Israel engajar-se num ‘processo de paz’, para adquirir legitimidade ‘imediata’ para ameaçar o Irã –, sobretudo porque os EUA, hoje, estão pensando de outro modo. A velha (inconsistente) retórica já não basta. Na entrevista que Kerry deu a Jeffrey Goldberg,[2] Kerry absolutamente não confirmou a eficácia da estratégia de ‘processo de paz’ de Netanyahu. Em vez de o ‘processo’ valer a Israel alguma recompensa e ‘licença’ mais ampla, Kerry disse o contrário – que se Israel não se entender com os palestinos terá de enfrentar a deslegitimação – e ainda acrescentou, para enfatizar, “deslegitimação reforçada com esteroides”. 

O que mais chocou o comentarista israelense é que Kerry omitiu todos os comentários considerados obrigatórios sobre os EUA manterem-se fiéis aos compromissos assumidos com a segurança de Israel etc., etc. Em resumo, Fishman fez, sutilmente, soar o alarme: a maioria dos israelenses podem estar maravilhados com a ascensão ao poder no Egito do “machado matador de Irmãos” (o general Sisi). Mas ninguém pode esquecer o quanto os amigos de Israel (Arábia Saudita, Egito e Jordânia) estão fragilizados nesse momento. E amigos fragilizados são amigos que rapidamente se tornam pouco confiáveis e até infiéis – sobretudo contra Israel – e num momento em que também se abrem ravinas profundas a separar aqueles mesmos amigos e os EUA. 

Kerry e a União Europeia parecem estar dizendo, isso sim, que Israel não pode continuar a contar com favores especiais – simplesmente por aceitar participar do ‘processo’. Alguma coisa está mudando. 


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Em Moçambique, Lula refere-se à eleição de Dilma como o ‘milagre’ que lhe deu ‘orgulho’



Em seu périplo africano, Lula fez nesta segunda-feira (19) uma palestra na cidade de Maputo, em Moçambique. Falou sobre a política social do seu governo. Na plateia, representantes de ONGs, gestores públicos, executivos de empresas e militantes da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique).
Evocando as diferenças que separam o Brasil de Moçambique, Lula preocupou-se em esclarecer que não era portador de uma receita pronta. “Tudo que eu falar aqui é em função da realidade econômica do Brasil, da realidade política e do potencial do Brasil”, disse.
Lula detalhou o funcionamento do Bolsa Família e, no melhor estilo “nunca antes na história”, deu a entender que, antes dele, o Brasil não sabia o que era investimento social. “Nós começamos a incluir os pobres no orçamento. O Bolsa Família, que atende 50 milhões de pessoas, custa apenas 0,5% do PIB brasileiro.”
Ao final da palestra, Lula referiu-se à vitória de Dilma Rousseff, na sucessão de 2010, como resultado de dois fenômenos: o êxito do seu governo e o auxílio do Padre Eterno. “Todos os sucessos do nosso governo resultaram em um milagre. O nosso país, com muito preconceito, elegeu pela primeira vez uma mulher para presidenta da República do Brasil. Foi a tarefa que me deu mais orgulho.”
Acrescnetou: “Os adversários falavam que ela era um poste, que não entendia nada de política. Pois bem, o nosso poste hoje está iluminando o Brasil.”
Lula foi apresentado ao auditório por Graça Machel. Vem a ser a atual mulher do líder sulafricano Nelson Mandela e viúva de Samora Machel (1933-1986) –um militar moçambicano que liderou uma revolução de inspiração socialista e presidiu Moçambique entre 1975 e 1986, ano em que morreu num acidente aéreo.
Graça (na foto) disse aos presentes que Lula é “símbolo […] de sucesso em uma sociedade desigual.” Ela açulou o ego do palestrante: “Nós vimos sua capacidade de tornar a sociedade menos desigual, de criar milhões de empregos, fazendo milhões de cidadãos saírem da pobreza, promovendo desenvolvimento e o fortalecimento da classe média.”

Israel “quase em pânico" (e não é metáfora)

Da série “O que diz Israel, quando fala prô seu próprio público”:
(Enviado por Sergio Caldiere)

30/8/2013, Conflicts Forum, “Comentário semanal” [excerto]http://www.conflictsforum.org/2013/conflicts-forums-weekly-comment-16-%E2%80%93-23-august-2013/

O evento mais significativo dessa semana foi, talvez, a publicação de um artigo em Israel. Foi escrito pelo principal analista militar israelense, Alex Fishman, e publicado em hebraico no jornal Yedioth Ahronoth no domingo. Foi atentamente lido na região e nos EUA,[1] sobretudo porque Fishman, muito respeitado, é o veterano correspondente militar desse jornal de grande circulação em Israel, conhecido pela qualidade de suas fontes.

Fishman diz, sem meias palavras, que Israel entrou numa situação de “emergência diplomática”: do primeiro-ministro para baixo, Israel combate “batalha diplomática desesperada” em Washington para desconstruir o antagonismo dos EUA contra Sisi e “os generais”. Essa caracterização de quase pânico, vinda de Fishman, não é metáfora nem “licença poética”. Vê-se, de outras matérias na imprensa israelense, que embaixadores israelenses em pontos chaves já foram instruídos, com mensagens claras de que a situação no Egito pode ter “agudo” [orig. dire] impacto em Israel. A mensagem oficial alerta que Israel, portanto, não pode manter-se omissa, em momento em que a fragilidade do governo egípcio e a deterioração da economia exigem que o exército seja autorizado a restaurar a segurança no Egito [i.e., que Europa e EUA devem ajudar o exército nesse papel]. 

Fishman alerta que a reação antagonista dos EUA contra o golpe militar acabará por explodir sobre Israel. O modo incompetente como os EUA lidaram com a situação, diz Fishman, inflamou os dois lados na arena egípcia, gerando desejo vicioso de “ferir qualquer coisa que simbolize os EUA – o que inclui Israel”. A oposição liberal/secular, diz ele, já reúne assinaturas insistindo em que o Egito abandone os acordos de Camp David. 

Simultaneamente, Fishman sugere, o Egito aproxima-se – ou, como ele especula, talvez até já tenha ultrapassado – seu próprio “momento Síria” [o momento no qual protestos inicialmente administráveis converteram-se em conflito armado].  “Ninguém está falando sobre uma guerra civil no Egito. Os ganhos obtidos pelo exército egípcio contra a Fraternidade Muçulmana foram apenas táticos. Nenhum lado obteve vitória decisiva e hoje mal se seguram em suas posições.” 

“A previsão em Israel” – escreve Fishman – “é que o Egito está entrando em longo conflito interno de baixa intensidade (tumultos, terrorismo) que anuncia período de instabilidade continuada, durante o qual será impossível administrar adequadamente o país, não haverá investimentos externos e a indústria do turismo permanecerá paralisada. O resultado disso será uma situação de declínio econômico que piorará gradualmente, e o Egito ficará dependente do bolso dos regimes na Arábia Saudita e estados do Golfo Persa. Alimentar 85 milhões de bocas com doações por muito tempo não é solução que reabilite a economia egípcia e dê solidez ao atual regime.” 

Num segundo artigo, publicado dia 20 de agosto, sob o título “Eventualmente seremos engolidos”, Fishman associa especificamente o ‘massacre de 25 soldados das forças especiais do Egito, na véspera’, à decisão do Exército Egípcio de retirar suas forças especiais antiterrorismo do Sinai – temendo a possibilidade de um ataque no Canal de Suez. As Forças Especiais foram re-deslocadas para Port Said. 

Mais uma vez, Fishman lamenta o vácuo de segurança criado no Sinai, que foi imediatamente preenchido por jihadistas. A menos que o comando egípcio consiga conter rapidamente a situação, ele prevê que “o fogo se espalhará – não só na direção do que resta do Exército Egípcio no Sinai – mas também em direção da fronteira com Israel.”

Outra publicação importante essa semana em Israel foi uma entrevista com Ephraim Halevy, ex-diretor do Mossad, por Yossi Melman, publicada emSof Hashavua. Ecoa o tema de Fishman, de que se está abrindo uma ravina entre EUA e Israel: Dessa vez não é o Egito; diz respeito à possibilidade de uma implosão da credibilidade de Israel nos EUA, mas tem a ver com o Irã. 

Halevy, ex-diretor do Mossad e ex-Conselheiro de Segurança Nacional, aponta abertamente as contradições da política de Israel para o Irã: de um lado, Israel diz que as sanções não estão funcionando; mas insiste em mais sanções (enquanto os EUA supõem que as sanções ajudaram a modelar a agenda de Rowhani, como Halevy destaca). De modo semelhante, Israel diz agora que o presidente iraniano, que obteve mais de 50% dos votos, não importa, e que só o Supremo Líder fala na questão nuclear [posição contrária à de antes, quando Israel pintava o presidente Ahmadinejad como causa de todos os problemas]. 

“Mas”, pergunta Halevy, se Rowhani “é tão pouco importante”, como se diz agora em Israel, por que Israel tanto se empenha em demonizá-lo como “lobo em pele de cordeiro”? Na opinião de Halevy, ao adotar essa abordagem Israel se torna redundante nas negociações entre o Irã e o ocidente: “Israel basicamente diz, desde o início, que as negociações não são importantes e que os iranianos, não importa o que aconteça, não desistirão do programa nuclear, porque o programa nuclear sempre esteve nos interesses nacionais do Irã – já no tempo do Xá –, e portanto não faz diferença quem esteja no poder em Teerã”. E continua: “Portanto, negociações não fazem sentido, porque fracassarão sempre.” Halevy diz aqui, porém, que não é o que pensam os EUA – que não faz sentido negociar com Rowhani. E que Israel corre o risco de divergir e “perder os EUA nessa questão”: “Interessaria a Israel expor, nesse estágio inicial, antes mesmo do início de qualquer negociação, que há divergência entre nós e os EUA nosso aliado?” – pergunta Halevy, só retoricamente. 

Os dois artigos, duas manifestações de preocupação que se constata entre os israelenses, parecem relacionados a um certo ressentimento muito visível na imprensa em hebraico. O primeiro sinal de apreensão e ansiedade surgiu da declarada intenção da União Europeia de formalizar decisões anteriores sobre comércio com os Territórios Ocupados da Palestina. A imprensa israelense sugere que Netanyahu preocupa-se menos com a des-legitimação em si, que não ferirá tanto Israel, e, mais, porque qualquer deslegitimação enfraquecerá a posição de Netanyahu para mobilizar a União Europeia e os EUA em sua ‘cruzada’ a favor de ação militar contra o Irã.  

Outros israelenses têm preocupação diferente: o chamado “processo de paz” visava precisamente a ‘vacinar’ Israel contra movimentos do tipo “Boicote-Desinvestimento-Sanções” (BDS) (com o ‘processo’ apresentado como sacrossanto). Mas ali estava a União Europeia a agir na direção oposta, e no mesmo momento em que Kerry lançava sua iniciativa. O episódio parece sugerir, segundo outros israelenses, que o sistema imunológico israelense estaria enfraquecendo – e que já não estava operando com a eficácia de antes. E esse, de fato, é o tema, também, de Halevy.

Vários jornais israelenses têm sugerido que o principal objetivo de Netanyahu – talvez o único – para engajar-se no ‘processo de paz’ de Kerry é, precisamente, fortalecer a posição de Israel, para influir mais decisivamente no lobby contra o Irã – especialmente durante a fase de ‘pato manco’ de Obama, depois das eleições de meio de mandato de senadores e deputados, quando Netanyahu pode girar o ‘porrete’ de um “ataque israelense independente” com um pouco mais de credibilidade operacional. 

Mas Halevy diz que isso tampouco funcionará – pressupor, simploriamente, que bastaria Israel engajar-se num ‘processo de paz’, para adquirir legitimidade ‘imediata’ para ameaçar o Irã –, sobretudo porque os EUA, hoje, estão pensando de outro modo. A velha (inconsistente) retórica já não basta. Na entrevista que Kerry deu a Jeffrey Goldberg,[2] Kerry absolutamente não confirmou a eficácia da estratégia de ‘processo de paz’ de Netanyahu. Em vez de o ‘processo’ valer a Israel alguma recompensa e ‘licença’ mais ampla, Kerry disse o contrário – que se Israel não se entender com os palestinos terá de enfrentar a deslegitimação – e ainda acrescentou, para enfatizar, “deslegitimação reforçada com esteroides”. 

O que mais chocou o comentarista israelense é que Kerry omitiu todos os comentários considerados obrigatórios sobre os EUA manterem-se fiéis aos compromissos assumidos com a segurança de Israel etc., etc. Em resumo, Fishman fez, sutilmente, soar o alarme: a maioria dos israelenses podem estar maravilhados com a ascensão ao poder no Egito do “machado matador de Irmãos” (o general Sisi). Mas ninguém pode esquecer o quanto os amigos de Israel (Arábia Saudita, Egito e Jordânia) estão fragilizados nesse momento. E amigos fragilizados são amigos que rapidamente se tornam pouco confiáveis e até infiéis – sobretudo contra Israel – e num momento em que também se abrem ravinas profundas a separar aqueles mesmos amigos e os EUA. 

Kerry e a União Europeia parecem estar dizendo, isso sim, que Israel não pode continuar a contar com favores especiais – simplesmente por aceitar participar do ‘processo’. Alguma coisa está mudando. 


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